Cultura africana e afrodescendente é celebrada em Santos com roteiro turístico e passeio literário de bonde

O Dia Mundial da Cultura Africana e Afrodescendente envolveu uma série de atividades em Santos. O Município, que faz parte da Rede de Cidades Criativas da Unesco, promoveu roteiro por pontos históricos e passeio de bonde com autores negros da região.

 Atração foi o RoteirAfro Santos, conduzido pelo historiador Odair José Pereira e pela guia de turismo Augusta França, que levaram os participantes a seis pontos do Município, destacando a contribuição histórica e cultural das populações negras para a Cidade.

Os quilombos de Pai Felipe (Vila Mathias) e do Jabaquara foram as primeiras paradas do grupo. Diante das placas que identificam os locais, o historiador passou aos visitantes fotografias antigas dos espaços e falou sobre o período da escravatura, preconceito e a trajetória dos negros que se refugiaram em Santos, bem como as formas de subsistência e resistência deste povo.

Na Praça dos Andradas, no Centro, os participantes conheceram a Cadeia Velha, onde negros e personalidades históricas foram aprisionados, como a escritora e militante Patrícia Galvão, a “Pagu”, por exemplo. Do local, ainda vislumbraram o Teatro Guarany, que foi palco das primeiras manifestações a favor do abolicionismo na Cidade.

O próximo destino foi a Casa da Frontaria Azulejada, também no Centro, que foi apontada por Pereira e Augusta como exemplo das grandes riquezas que eram alcançadas, no passado, por meio da mão de obra escravizada.

Emblemático, o espaço foi palco da intervenção artística ‘Contra-ataque’, uma provocação sobre racismo, preconceito e aceitação estrelada pelos atores Thayany Muniz e Hugo Henrique, da Equipe Plataforma. Sob a direção de Jair Moreira, a peça entregou aos participantes do roteiro um misto de emoções, de constrangimento a alegria, por meio de atuação, música, dança e interação com a plateia.

Para finalizar o passeio, o grupo se reuniu na Estação do Valongo que, segundo o historiador, é considerada por muitos o marco inicial da Cidade. Para o profissional, o roteiro é uma forma não só de valorizar a atuação do negro na história santista, mas conhecer uma Santos que já não existe.

“Santos sempre teve uma relação muito grande com os negros. Em determinado momento do século 19, metade da população santista era negra, tanto livre quanto escravizada. Esse roteiro é uma forma de encontrar esses vestígios deixados por eles, essas heranças, tradições e arquitetura dessa população. Mesmo que hoje a gente tenha dificuldade de enxergá-las, elas ainda estão lá”, disse o historiador.

A guia de turismo Augusta França destaca que o afroturismo está em crescimento no Brasil e que Santos, por reunir tantas histórias relacionadas a esse povo, não poderia ficar fora do movimento. “São fatos que muitas vezes não são de conhecimento da população e que o afroturismo ajuda a despertar esse interesse a respeito, de querer aprender mais. Estava faltando contar a história da população negra e este segmento tem sido muito importante neste sentido”, afirmou.

A gestora cultural Lígia Azevedo, 36 anos, concorda com Augusta. “Eu realmente sentia falta de conhecer mais sobre esse outro lado de Santos e por isso decidi participar hoje. Muito se fala da orla, mas é preciso entender que a Cidade só é o que é pelas pessoas negras que viveram aqui. Esse roteiro se faz necessário para o ‘enegrecimento’ da história”, afirmou. “Agora vejo a Cidade com outros olhos”, finalizou Lígia.

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