2Vieira, proeminentes artistas da cena instrumental de São Paulo, apresentam shows no litoral e palestra sobre o ofício, desafios e influências da música negra

Show faz parte da turnê do álbum “Volume 2”, da dupla de irmãos que já tocou com nomes como Alaíde Costa, Gilberto Gil, Ed Motta, Dominguinhos e Frank Sinatra Júnior

A música fortalece laços de fraternidade, comunidade e autopercepção em relação ao mundo e há quem acredite que ela eleva espiritualmente o ser humano. Não à toa, muitos dos grandes músicos da nossa história começaram sua trajetória dentro de igrejas evangélicas, reduto de grande parte da música negra que moldou tudo que ouvimos hoje, tal como o soul, blues, R&B e claro, o gospel. O 2Vieira tem história parecida.

O duo, formado pelos artistas: Sidiel Vieira (baixista), e Sidmar Vieira (trompetista)  apresentará suas canções autorais no dia 15 de março em Santos, litoral paulista, e no mesmo dia, os musicistas darão uma palestra aberta ao público sobre o ofício da música, desafios, oportunidades e influência de compositores negros na música brasileira.

Os irmãos tiveram sua vida musical iniciada no seio da igreja e hoje são importantes músicos da cena instrumental paulistana. Já tocaram com nomes consagrados como Alaíde Costa, Gilberto Gil, Ed Motta, Dominguinhos, Frank Sinatra Júnior e também se apresentaram como músicos de apoio no consagrado Festival de Montreux.

Sidmar e Sidiel cresceram sob influência musical dos pais, também músicos. O pai tocava trombone, a mãe era regente e o irmão mais velho tocava trompete, surgindo aí o interesse de Sidmar pelo instrumento. “Eu gostava muito de música e desde o começo fui mais puxado para o som instrumental, embora houvessem os louvores, claro, mas eu sempre tive essa curiosidade pelo som instrumental pelo fato de ter referências dentro de casa e também de grupos de músicos, não só do trompete, mas de outros instrumentos também”, conta Sidmar, que é íntimo da música desde os oito anos de idade e hoje toca na Orquestra Brasil Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo.

“A música instrumental não tem letra, então pelo tema você obriga as pessoas a abrir a imaginação e entrar num ambiente único de imaginação. Em uma de nossas músicas, chamada “O Mentecapto”, o ouvinte precisa captar o colorido e a energia dos instrumentos, imaginar o que seria o mentecapto. É mágico, sabe”, explica Sidiel, também professor de música na EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo- Tom Jobim).

A formação de contrabaixo e trompete oferece uma experiência peculiar, mas não menos acolhedora, o que pode ser conferido nos trabalhos ‘Volume 1’ e ‘Volume 2’, lançados pelos irmãos em 2021 e 2022 respectivamente. Compositores de ouvido acurado e músicos virtuosos,  os irmãos fazem do som do 2Vieira uma mistura única de musicalidade moderna e pesquisa sobre ancestralidade, referenciando desde o jazz clássico até o afoxé e o sambajazz, indo até melodistas de primeira como Johnny Alf, Djavan, Gilberto Gil e, talvez a influência maior dos irmãos, o lendário arranjador, compositor, maestro e multi-instrumentista brasileiro Moacir Santos. “Temos a música ‘Marcha pro Santos’, uma homenagem ao supremo maestro negro do Brasil. Ele tem uma obra extensa, maravilhosa. “Com essa música a gente quer que as pessoas procurem sobre esse artista gigantesco. É uma pequena homenagem para quem foi extremamente grande e tem uma representatividade enorme para o 2Vieira e todo mundo que respeita a música negra brasileira”, explica animado Sidiel.

Recentemente, Sidmar tocou com outro grande musicista instrumental, o trombonista Joabe Reis, e conseguiu presenciar que há interesse por música instrumental no Brasil, mesmo em um evento de carnaval, sem que precisassem tocar as tradicionais marchinhas, bastando os músicos levarem sua arte onde nem sempre o público tem acesso. “Temos experiência de ter tocado em lugares abertos para todo perfil de público e as pessoas ouvem os instrumentos, param e ouvem. Então essa barreira em relação à música instrumental  deixa de existir a partir do momento em que o músico sente a necessidade e o prazer de fazer música e se conectar com as pessoas independente de letra. Você tem que estar aberto a quem quer ouvir e fazer chegar sua mensagem”, reflete o duo.

Os shows do 2Vieira serão baseados no ‘Volume 2’, e o público poderá conferir ao vivo faixas como ‘Caroa’, ‘Tribus’, ‘Antiga Rua 2’, ‘Aprazimento’, ‘Complacente’, ‘Manjericão’ e as já citadas ‘O Mentacapto’ e Marcha pro Santos’. “Nossos instrumentos são uma extensão de quem somos. Aprendemos que a música é um ato congregacional, onde todo mundo participa de alguma forma e amamos colocar o que aprendemos em prática e testar a reação do público. O baixo como condutor, o trompete ditando a melodia e esperamos que as pessoas gostem tanto quanto a gente de estar naquele lugar, compartilhando música, história e energia”, conclui o 2Vieira.

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