Palestrantes apontam grandes perspectivas para a Economia Criativa da região no encontro do INOVA

As potencialidades da região no segmento da Economia Criativa com foco na área de mídias e especificamente no audiovisual foram expostas durante o 5º encontro do Movimento INOVA Região Metropolitana da Baixada Santista, realizado  na UniSantos, com a participação de especialistas no assunto, autoridades, produtores culturais e acadêmicos.

Após uma breve contextualização feita pelo professor João Alfredo Carvalho Rodrigues Gonçalves, coordenador do Segmento Economia Criativa do INOVA, a gestora de Negócios do Sebrae de São Paulo, Patrícia Valle, apresentou um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) que demonstra a importância da Economia Criativa para a indústria, movimentando 3% do PIB brasileiro, incluindo o mercado audiovisual, e gerando mais de 110 mil empregos. “A Economia Criativa também promove a diversidade cultural, o desenvolvimento humano e a inovação. Contudo, temos uma fatia de apenas 0,25% de negócios formalizados neste setor. Este é o grande desafio: descobrir quem são esses agentes da economia criativa que geram tantos empregos e renda para o país e ajudá-los a melhorar sua competitividade, consolidar esses negócios para que eles se tornem cada vez mais alavancadores da economia”, observou a gestora do Sebrae, que aponta as áreas de tecnologia, propriedade intelectual e de políticas públicas como os três eixos primordiais para alcançar este objetivo. O Sebrae vem realizando um Estudo Inteligente do Mercado Audiovisual desde 2012 e identificou grandes possibilidades de atingir bons resultados trabalhando o Turismo Cinematográfico.

Diretor de Filmes Publicitários da Flip Filmes e de curta metragens, Wanderley Augusto Rodrigues de Camargo esclareceu que a região tem vários cursos técnicos e oficinas na área de comunicação e audiovisual, além de dois festivais anuais que movimentam o setor, o Curta Santos e o Santos Film Fest. De acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), o mercado audiovisual abrange as salas de exibição, a radiodifusão de sons e imagens da TV aberta, comunicação de massa por assinatura (TV a cabo), vídeos domésticos, a produção de casamentos e outros eventos sociais, empresariais, além de circuitos fechados. Para Camargo, um problema crônico da região é que os produtores não conversam entre si. “Não há um movimento que aglutine esses produtores para pensar o mercado, uma voz uníssona que represente os produtores. Temos produtores extremamente criativos, mas que não são organizados, atuam informalmente”, avaliou.

Outro aspecto abordado por Camargo é que, apesar da região ser muito utilizada como cenário de grandes produções, a maioria delas sequer é exibida na região e não utiliza mão de obra local. Ele lembrou também que a demanda do streaming (tecnologia de transmissão de vídeos por plataformas digitais) não tem fronteiras e, portanto, os produtores podem comercializar seus produtos com qualquer região do mundo. Observou ainda que o setor de audiovisual sempre dependeu muito do financiamento estatal, através da Ancine, e considera necessário que se busque e incentive formas alternativas de financiamento. “A estrada é longa, mas abre muitos caminhos e está asfaltada e sinalizada. O Brasil se destaca internacionalmente com suas peças publicitárias em Cannes, sua dramaturgia é conceituada. Enfim, temos gente, material, expertise e possibilidades. A questão é incentivar para que sejam exploradas”, concluiu.

O presidente do Instituto Querô, Eduardo Tramujas Vianna Júnior, trouxe o conceito de negócio social, onde, a partir de um problema social, cria-se um negócio para resolver o problema. “A diferença dos negócios tradicionais é que não é nem segundo nem terceiro setor, nem empresa pura nem filantropia pura, está entre os dois. O lucro obtido é revertido para resolver aquele problema social”. Inspirado no exemplo do bengalês Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz em 2006, que criou o primeiro banco cooperativo de microcrédito com o objetivo de ajudar a tirar o povo de Bangladesh da pobreza e chamou a atenção do mundo para essa questão, o Querô criou o primeiro micronegócio social na área de audiovisual, uma produtora-escola de vídeos, em parceria com a Associação Comunidade de Mãos Dadas (ACMD), que tem apresentado resultados surpreendentes.

Vianna apresentou também o case de maior sucesso da instituição, de repercussão internacional, que buscou “um final feliz para a história do Plínio Marcos (o livro Querô, transformado em filme com atores da região em situação de vulnerabilidade social) com final trágico”. O presidente expôs dados de 2018 que demonstram que os trabalhos da produtora-escola estão a todo vapor, com destaque para o longa “Sócrates”, que retrata a realidade do jovem brasileiro e foi candidato ao Oscar, com 12 indicações para festivais e dez prêmios conquistados; e para o curta “Ana”, com 18 indicações e 4 premiações. Vianna considera fundamental a aprovação pela Assembleia Legislativa do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da região, que inclui as diretrizes para a Economia Criativa e precisa ser transformado em lei. E paralelamente, que os municípios estabeleçam suas leis de incentivo à cultura, “porque para cada 1 real que vai para o terceiro setor são devolvidos 7 reais em serviços de alto impacto”.

FÓRUM MUNDIAL DA UNESCO – Os participantes também ressaltaram a importância que a região ganha com a Unesco trazendo para cá um evento de âmbito global sobre a Economia Criativa em meados de 2020, com representantes de mais de 200 cidades de todas as partes do mundo.

Representando o prefeito de Santos, o secretário de Governo, Rogério Santos, destacou a importância deste segmento lembrando que países asiáticos que estavam com sua economia estagnada há 30 anos e investiram em educação e tecnologia, como China e Singapura, passaram o Brasil e hoje têm grande destaque no cenário econômico mundial.  Destacou o potencial da região nos diversos vetores da Economia Criativa, como artesanato, design, tecnologia, literatura e o turismo, além da vertente do audiovisual. “Santos escolheu a Economia Criativa como uma política pública, temos as Vilas Criativas e várias ações sendo desenvolvidas na cidade, reconhecidas pela Unesco, que concedeu a Santos o Selo de Cidade Criativa em Cinema e nos escolheu para sediar este grande evento em 2020, que vamos fazer em parceria com a UniSantos e os governos federal e estadual”.

Um dos idealizadores do INOVA, o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão avalia essa questão cultural da Economia Criativa como muito importante, “até porque ela está muito ligada ao turismo, tem uma diversificação muito grande e algumas de suas vertentes atendem muito bem a nossa região. Sabemos que a geração de renda não passa só pelos empregos formais, mas por inúmeras atividades, e o Inova veio com o propósito de nos fazer refletir sobre todos os eixos de desenvolvimento econômico”, pontuou. Ele enalteceu as instituições universitárias da região, “que compraram a ideia e estão trazendo experiências de fora da região para conhecermos e avaliarmos as possibilidades para sairmos dessa apatia econômica em que nos encontramos na Baixada Santista”.

O diretor geral do Santos Film Fest, André Azenha, que seria um dos painelistas, teve um imprevisto e não pôde participar do encontro.

 

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