Traçar um paralelo entre a quebra de paradigmas presente na obra do compositor Heitor Villa Lobos e a quebra de padrões no balé, levantando questões como a elitização e o privilégio branco na modalidade.
Este é um dos destaques do espetáculo “Seis Solos para Lobos”, inspirado na vida e obra do maestro e músico, que é descrito como a figura mais significativa do século 20 da música clássica brasileira.
Contemplado pelo ProAC Expresso (Lei Aldir Blanc n.º 37/2020), o espetáculo terá sua estreia no dia 5 de março, aniversário de Villa-Lobos e Dia da Música Clássica. Ao todo, serão seis apresentações pela plataforma Youtube, transmitidas ao vivo diretamente do teatro Raul Cortez, em Mongaguá. O elenco é composto por artistas de cinco cidades da Baixada Santista.
Realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Movimento em parceria com a Cia de Artes Tribus (ambos de Praia Grande), “Seis Solos para Lobos” é um espetáculo que mescla a dança contemporânea e o balé clássico, numa combinação caracterizada pela inovação, fazendo alusão à diversidade da obra de Villa-Lobos, que inovou ao mesclar nuances da cultura regional brasileiras – como elementos do folclore, canções populares e indígenas – com a influência da música clássica. “Villa-Lobos é o compositor brasileiro mais tocado em todo o mundo porque soube valorizar a riqueza de um país diversificado, a ponto de transmitir isso como valor educacional, cultural e artístico”, ressalta o coreógrafo e diretor do espetáculo, Daniel Rolim, que também dirige o Núcleo de Pesquisa e Movimento.
A diversidade do elenco – que inclui bailarinas indígenas, pretas, de múltiplos perfis e diversas faixas etárias – é um dos pontos altos. “A força do protagonismo de um elenco de diversidades feminina é uma forma de combater questões como o eurocentrismo, o privilégio branco e a elitização do balé. Só porque o balé foi trazido pela Europa, a bailarina precisa ser branca e magra?”, questiona Rolim. “Essa diversidade proposta no espetáculo vem representar a popularização da dança clássica. Ainda há um longo caminho para a intolerância acabar. Para isso, é necessário um trabalho conjunto, de educação e de reconhecimento de privilégios que não deveriam existir”, salienta.
Os seis solos abordam aspectos da vida e obra de Villa-Lobos, buscando aproximar o público da história do artista. “Um dos solos, por exemplo, aborda a importância que as duas esposas de Lobos tiveram em sua vida, mostrando a influência da força feminina na vida do maestro”, cita o diretor. “Em outro solo, a bailarina, como se fosse uma regente, dá vida e movimento ao maestro em cena. Num outro, a solista nos transporta com a interpretação e os movimentos a face de um artista incompreendido”, exemplifica. Todo o espetáculo é realizado ao som de obras reverenciadas do autor. Ao todo, 11 bailarinas participam do evento.
Escultura viva – O espetáculo inclui uma instalação no Foyer, com bailarinas caracterizadas de esculturas que criam vida dançando ao som de Villa Lobos. A instalação faz uma releitura da estreia do maestro na Semana de Arte Moderna, em 1922. A música da instalação será executada por um músico autista convidado, aluno da ONG Cia de Artes Tribus. O evento conta, ainda, com a exibição de um vídeo que mostra o processo de criação do espetáculo.
Destaque – Vale lembrar que Seis Solos para Lobos recebeu a nota mais alta do ProAC Expresso 2020 LAB dentre os selecionados do interior e litoral e ficou em 5º. lugar na classificação geral, dentre mais de 140 concorrentes na área da dança. O ProAc Expresso 2020 é promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do Estado de São Paulo, através da Lei Aldir Blanc, lei de auxílio financeiro ao setor cultural.
Apresentações – Com duração de 45 minutos, o espetáculo terá seis apresentações com transmissão “ao vivo”, diretamente do Teatro Raul Cortez, em Mongaguá. A estreia do espetáculo acontecerá às 19 horas do dia 5 de março, aniversário de Villa-Lobos e Dia da Música Clássica. As demais apresentações serão realizadas nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 de março, sempre às 19 horas. As transmissões poderão ser acompanhadas pelo Youtube, no canal do Núcleo Pesquisa e Movimento.
Diretor – Daniel Rolim é bailarino, coreógrafo e diretor artístico do Núcleo Pesquisa e Movimento, com sede em Praia Grande (SP). Graduado pela Royal Academy of Dance, com experiência profissional pelo Brasil e vários países da Europa, foi premiado em diversos festivais dentro e fora do País.
Núcleo – Desenvolvido desde 2016 em parceria com a ONG Cia de artes Tribus, o Núcleo de Pesquisa e Movimento surgiu como um grupo de encontros de artistas e jovens da região para estudos teórico-práticos de técnicas de dança. Atualmente, realiza aulas de técnicas corporais, encontros, palestras e participações em projetos artísticos apoiados pelos órgãos públicos e privados.
Cia Tribus – Organização sem fins lucrativos criada em 2004, a Companhia de Artes Tribus atua nas áreas artística, sociocultural e humanitária. Entre seus projetos de destaque estão o “É Hora de Artes” (premiado no World Petroleum Congress, em Doha, no Catar, em 2010), o “Pró-Imagem” e o “Gincana Cultural” (apoiados, respectivamente, pelos governos do Estado de São Paulo e de Pernambuco), entre outros.
Participou dos Jogos Olímpicos da China 2008 e nas Olimpíadas Rio 2016, na área de entretenimento. Em Praia Grande, atua na área da dança em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Movimento e na música, em parceria com o Instituto Orquestra Arpejo. Na área humanitária, a parceria com organizações internacionais levou a ONG para diferentes países e continentes.
Villa-Lobos – O multi-instrumentista, compositor e maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é descrito como o compositor sul-americano mais conhecido de todos os tempos. Escreveu numerosas obras orquestrais, de câmara, instrumentais e vocais, totalizando mais de 2 mil obras. Destaca-se por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, sendo considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, compondo obras que contêm nuances das culturas regionais brasileiras, com elementos das canções populares e indígenas. Suas composições foram influenciadas tanto pela música folclórica brasileira quanto por elementos estilísticos da tradição clássica europeia. Por tudo isso, sua data de nascimento é celebrada, no Brasil, como Dia Nacional da Música Clássica.
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