Especialista aponta desafios logísticos a serem superados pelo Porto de Santos e ABC Paulista

Segundo o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, fluxo do transporte rodoviário no Brasil continuará a crescer até 2035

As rodovias respondem por 62,2% do transporte de cargas no Brasil, sendo o setor que mais movimenta as estradas o de alimentos e bebidas, segundo um estudo publicado este ano pela Fundação Dom Cabral. No entanto, apesar da importância do transporte rodoviário para o país, ele ainda enfrenta alguns desafios, especialmente nas regiões do ABC Paulista e no Complexo Portuário de Santos, que estão entre os territórios logísticos mais importantes do mundo.

Este foi um dos temas abordados no seminário online “Desafios Atuais do Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil: Uma Visão para a Macrorregião do ABC e do Porto de Santos”, realizado pela LGK Gestão & Governança em parceria com o SINDISAN (Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista) e o SETRANS ABC (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC).

Entre as maiores dificuldades está o planejamento de demanda. O coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da Fundação Dom Cabral, professor Paulo Resende, explica que este é considerado o maior gargalo e desafio na gestão das empresas. “O transporte rodoviário de cargas é o modal de transporte que apresenta menos avanços em planejamento de demanda em comparação com todos os outros meios”, afirma.

Resende também classificou os demais desafios enfrentados nessa modalidade: baixa eficiência no tempo de processamento de pedidos e os atrasos nas entregas; a segmentação de clientes, que envolve a inflexão entre a padronização e a customização; o modal rodoviário, que é, de acordo com Resende, o menos avançado no uso de inteligência artificial, automação de processos e robotização; e, por fim, o planejamento de longo prazo, no qual o setor de transportes é considerado o modal com a mais baixa taxa de implementação do que foi planejado.

Transformações

O levantamento do Comex Stat-MDIC, abordado na palestra, mostra uma comparação da exportação brasileira entre os anos de 2000, 2010 e 2021. No primeiro ano avaliado, os Estados Unidos foram o maior parceiro comercial do Brasil. No entanto, nos anos seguintes, esse papel foi gradualmente ocupado pela China, e, segundo Resende, essa tendência deve continuar a crescer.

Outro ponto abordado pelo professor foi o tráfego do transporte de cargas nas rodovias. Tratando-se de um dos tipos mais predominantes de carga, alimentos e bebidas — cujo 91,4% do volume transportado é realizado por rodovias, segundo a pesquisa “Cenários de Carregamento da Rede Multimodal de Transporte com Fluxos de Cargas nos Horizontes Base Atual e Projetados (ainda sem novas infraestruturas)” da Fundação Dom Cabral — aponta uma sobrecarga no transporte rodoviário de cargas brasileiro. O especialista destacou que o volume de tráfego nas rodovias deve crescer até 2035.

“Este é um setor de destaque para o reposicionamento das empresas de transporte rodoviário que atuam no ABC e no Porto de Santos: a distribuição de alimentos no Brasil, seja de atuação regional ou nacional. A participação rodoviária neste setor tende a aumentar, e a integração com outros modais de transporte passará pela navegação de cabotagem”, explica Resende.

Outro setor evidenciado pelo professor é o de manufaturados, com destaque para a conteinerização da logística no Brasil. Para ele, também é uma oportunidade de reposicionamento das empresas em ambas as regiões. “A participação rodoviária neste setor tende a aumentar, e a integração com outros modos de transporte passará, em alguns casos, pela ferrovia, mas a predominância continuará sendo rodoviária.”

Ainda sobre a manufatura, Resende realça a importância do Porto de Santos para o transporte. “Na minha opinião, o Porto de Santos deveria ser um dos maiores, senão o maior, portos de contêineres do mundo, abastecendo o nosso país e transportando nossa produção manufaturada, tanto no presente quanto no futuro.”

Ainda que o transporte ferroviário não seja tão forte quanto o rodoviário nos dias atuais, o professor chama a atenção para o aumento da participação ferroviária no escoamento da soja para o sistema portuário de Santos.

“Isso nos leva a pensar em quatro pontos: Um — Conflito de escala entre setores; Dois — Precificação do transporte; Três — Conflito de espaço por acesso logístico; e Quatro — Especialização portuária, entre outros”, diz Resende.

Análise SWOT

No seminário, o especialista mostrou uma análise de SWOT (sigla em inglês para Strenghts, Forças; Weaknesses, Fraquezas; Opportunities, Oportunidades; Threats, Ameaças) da infraestrutura de ambas as regiões em pauta.

Entre as oportunidades, estão:

●            O Porto de Santos é o maior porto da América Latina e desempenha um papel crucial no comércio brasileiro e internacional.

●            A região do ABC e o Porto de Santos estão entre os cinco territórios logísticos mais importantes do mundo e têm grande contribuição para a América Latina.

Entre os pontos fortes:

●            O Porto de Santos, pela sua participação multisetorial, precisa decidir, em um futuro próximo, quais serão suas principais vocações: commodities, carga geral ou conteinerizada.

●            Economia de aglomeração: a grande oferta de diferentes prestadores de serviços, serviços logísticos adicionais e uma cadeia de suprimentos importante para os operadores.

Tratando-se das ameaças:

●            Regulações rígidas e burocracia no processo de despacho causam atrasos adicionais. Apesar dos avanços, a burocracia portuária ainda não tem um nível avançado de digitalização e integração tecnológica de ponta no mundo.

●            As flutuações sazonais na demanda por transporte rodoviário podem levar a períodos de subutilização seguidos de picos, onde a capacidade é comprometida por contratações de emergência e exceções.

●            O Complexo Portuário de Santos e a Região do ABC não se destacam pela integração tecnológica com os operadores de transporte. Por exemplo, a integração tecnológica entre o porto e a hinterlândia é muito restrita.

Já quanto aos pontos fracos:

●            Congestionamento grave nas vias de acesso ao Porto. Segundo Resende, não se pode afirmar que as vias de acesso têm a qualidade compatível com a importância do Complexo Portuário e da região do ABC.

●            Existe um mix de oferta logística na região do ABC, que vai de operadores internacionais a pequenos operadores locais.

●            A segurança é uma preocupação constante, com relatos regulares de roubos e assaltos nas proximidades do Porto.

Sobre o palestrante

Paulo Resende é professor de Logística, Transporte, Planejamento de Operações e Supply Chain, além de pesquisador responsável pela Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes da Fundação Dom Cabral. Tem doutorado em Planejamento de Transportes e Logística pela University of Illinois at Urbana-Champaign (EUA) e mestrado em Planejamento e Engenharia de Transportes pela Memphis State University (EUA).

Sobre a LGK Gestão & Governança | Fundação Dom Cabral 

A LGK Gestão & Governança surgiu com o propósito de transformar pessoas e negócios por meio do conhecimento. A decisão de se instalar nessas regiões segue uma diretriz da FDC em ter presença em regiões que são estratégicas para o país e que necessitam de um grande apoio para elevar o nível de gestão empresarial e continuarem sendo competitivas.  

Em parceria com a sua associada LGK Gestão & Governança, a Fundação Dom Cabral, tem como propósito contribuir para o desenvolvimento sustentável destas regiões por meio da educação, da capacitação e do desenvolvimento de executivos, empresários e gestores públicos. 

A LGK vem cumprindo sua missão e promovendo um crescimento exponencial nos clientes da Baixada Santista e do ABC, trazendo o que há de melhor em termos de gestão empresarial e capacitação de líderes. 

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